*Por Maurício Fernandes
Somente quem não aprende com a evolução da tecnologia interpreta o que acontece de maneira parcial. Embora tudo mude e parece que o que acontece hoje é inédito, a verdade é maior – e mais simples. A evolução de Cloud Computing é, afinal, muito parecida com outras que já ocorreram.
Me refiro especificamente à evolução do Azure da Microsoft como plataforma de IaaS e PaaS. É uma extraordinária jornada que a Microsoft soube planejar e executar com perfeição. Ao conectar o Azure ao portifólio Microsoft e oferecer assim uma migração consistente e simples para seus clientes, o Azure se tornou uma escolha natural para quem tem Microsoft como algo central em sua matriz de tecnologias. Claro, há um desafio com o ecossistema. A Microsoft atinge ao mercado por meio de empresas que revendem software ou revendem contratos de licenciamento, se preferir. E agora essas empresas são pressionadas a agregar serviços de Cloud, um posicionamento completamente diferente.
Mas o fato é que está dando certo. Segundo dados da Rightscale, em seu recente “State of the Cloud”, a adoção de Azure no mundo corporativo passou de 26% a 43% em um ano, enquanto AWS foi de 56% para 59% no mesmo período. Estes valores indicam que corporações têm utilizado mais de uma Cloud em seus projetos, algo que se tornou normal.
Há um debate acalorado no mercado sobre a ameaça que o Azure faria à AWS, dentre outras análises que eu considero superficiais. Vou resgatar agora a memória de alguns dos mais seniores leitores e lembrar de uma história muito parecida, também envolvendo a Microsoft há uns 25 anos.
Quando a Microsoft lançou um produto chamado Windows NT e trouxe a oferta de Windows para o mercado corporativo, ela chegou atrasada e encontrou um mundo loteado, dividido e agitado. Sistemas Operacionais proprietários competiam com uma visão mais moderna e universal do Unix. Não parecia haver espaço para mais um competidor. Este cenário te parece familiar com a Cloud de hoje? Pois é. A história é bem conhecida: a Microsoft eliminou do mercado todas as ofertas de nicho, amarradas em um ou outro hardware ou em um ambiente fechado. O Unix somente sobreviveu ao se tornar aberto e multiplataforma por meio do Linux. Assim o mundo se dividiu (e se divide até hoje) entre Windows e Linux. Todos os demais não conseguiram competir e praticamente sumiram.
O mesmo vai acontecer aqui. Enquanto a AWS segue firme e sem sinal algum de perder a liderança, o Azure deve continuar eliminando o espaço dos demais concorrentes. Vejam por exemplo o que aconteceu com a Oracle em um ano, perdendo participação (de 4% para 3%) ou DigitalOcean (de 5% para 2%). Mesmo IBM, com todo o esforço e controle de sua base instalada, subiu apenas 1% (alguém se lembra do OS/2?). Divergindo, Google subiu de 10% para 15%, mas não tem posicionamento para atender ao mercado corporativo. Aqui o tempo dirá o que vai acontecer. O que está acontecendo é claro: novamente a Microsoft substitui as ofertas que não têm estrutura para seguir adiante. Como fez com o NT, Explorer, Hiper-V, SQL Server, etc.
Ou seja, o cenário que se desenha é uma forte divisão no mercado entre AWS e Azure. É muito bom poder contar com estas duas ofertas, complementares e fortes. Isso significa mais liberdade e abrangência para todos.
A Dedalus já tem clientes que usam AWS e Azure ao mesmo tempo e no mesmo ambiente. Mas não temos nenhum cliente que tenha migrado de uma nuvem para a outra. Estamos bem posicionados com ambas as tecnologias e temos recebido muito apoio de ambos os fabricantes e do mercado para apoiar cada cliente, cada projeto, na escolha neutra e técnica entre AWS e Azure. Felizmente, apostamos bem anos atrás.
Em um mercado que ainda está começando – apenas 5% das aplicações corporativas rodam hoje em Cloud – muita coisa vai acontecer. Mas olhar para a história nos ajuda a entender para onde vamos.
*Maurício Fernandes é presidente da Dedalus Prime