Grupo Renault + Dedalus
Há cerca de um ano, quando conversamos com Claudio Lezcano, responsável pela Segurança da Infraestrutura de TI do Grupo Renault na América Latina, ele fez uma excelente apresentação sobre o projeto de jornada para a nuvem do Grupo Renault que, naquela época, completava quatro anos de existência com bons resultados para a estratégia de negócios no Brasil e na América Latina.
Cinco anos vivendo a experiência na utilização de nuvem é um marco importante no cenário nacional e, por isso, resolvemos procurar o Lezcano novamente para falar um pouco sobre a maturidade da computação em nuvem, seja por parte dos provedores de serviços e soluções ou das empresas usuárias. Há uma percepção no mercado de que essas companhias têm ampliado, de forma expressiva, a implementação de nuvem em seus ambientes de trabalho e de relacionamento com seus consumidores.
Atmosfera Dedalus – Indo direto ao tema: O mercado está mais maduro? O que tem mudado?
Claudio Lezcano – Vou começar por uma resposta bem simples, mas que certamente identifica as mudanças que vimos nesses últimos cinco anos. Quando começamos o projeto havia no mercado um único fornecedor de computação em nuvem suficientemente maduro para atender nossas demandas iniciais. Esse fornecedor era a AWS e a decisão era mais simples. A evolução concreta de outros grandes fornecedores que amadureceram suas ofertas e aprimoraram os processos de comercialização, ao mesmo tempo que nos traz a oportunidade de contar com mais opções, nos apresenta dificuldades adicionais para identificar qual o melhor provedor para atender determinada necessidade. Não há como reclamar desse novo cenário, uma vez que temos um leque maior de escolhas, aqui apenas a constatação que surgiu uma nova dificuldade no processo de seleção.
Atmosfera Dedalus – Quando falamos de tecnologia / soluções, o que vem acontecendo em computação em nuvem?
Claudio Lezcano – Estamos utilizando cada vez mais soluções e serviços em nuvem baseados em ofertas de maior complexidade. Crescem nossas demandas no modelo FaaS (Function as a Service), enquanto estabiliza com tendência de redução, a contratação de recursos no modelo Infraestrutura como Serviço. Precisamos implementar em nosso ambiente ferramentas e/ou aplicações em nuvem que recebemos de nossa matriz.
A integração do legado com a nuvem por meio de novas soluções como, por exemplo APIs, tem aumentado de forma significativa. No início da migração para a nuvem, essa integração era realizada via VPNs. Ou seja, a integração vem se realizando de forma mais simples por meio de recursos mais eficientes e eficazes.
Atmosfera Dedalus – Mesmo mais maduros, ainda existem desafios para fornecedores e empresas usuárias. Por gentileza, nos relate alguns desses desafios no momento atual.
Claudio Lezcano – Para uma organização como o Grupo Renault que mesmo acima da média do mercado, ainda não considero em alto nível de maturidade com relação à computação em nuvem, um grande desafio está na convivência (e na seleção) entre os dois ambientes que continuarão a existir por um bom tempo: a arquitetura e soluções no modelo tradicional e as soluções migradas ou desenvolvidas para o ambiente de nuvem. Esse desafio é ainda maior quando olhamos pelo viés de processos de governança que são muito distintos em cada uma dessas verticais utilizadas pela área de TI. Falando dos fornecedores, é muito claro para mim que um grande desafio é a maioria não estar capacitada para apoiar às empresas em processos que possam aproveitar toda a informação gerada pelas novas ferramentas. Vender o produto não é tão difícil, o desafio está em facilitar a integração com o ambiente já existente.
Atmosfera Dedalus – O modelo atual de vendas ainda precisa amadurecer muito?
Claudio Lezcano – Sim. Ainda vemos muitos fornecedores que não conhecem suficientemente o negócio de seus clientes e geram produtos novos que podem não atender às necessidades das empresas. A impressão, em diversas ocasiões é que, ainda pensam no modelo de processos para ambiente “on premises” e querem vender desta forma para ambiente de nuvem que é muito diferente e precisa de atendimento a outras camadas, além da integração como, por exemplo inventário, segurança, disponibilidade, redundância, entre outras. Uma boa mudança é a crescente possibilidade de realização de PoCs (provas de conceito) para validar as novas ofertas; no entanto ainda há dificuldade para o próximo passo: implantar a solução. Acredito que 70% / 80% do sucesso das negociações dependem da habilidade do vendedor em gerar parcerias com todos os grupos internos da empresa, entendendo os processos, para adaptar seus produtos e municiar a área de TI com todas as informações que viabilizam a venda interna.
Atmosfera Dedalus – Como aprimorar esse processo e todos se beneficiarem dessa maturidade que cresce quando falamos de computação em nuvem?
Claudio Lezcano – Vejo com bons olhos a atuação de um especialista em serviços de cloud, que têm a capacitação para atender da maneira certa as necessidades do ambiente tradicional e as solicitações oriundas do ambiente de nuvem e podem resolver praticamente todos os problemas de integração. Sabem muito bem, qual processo de governança é o mais adequado para cada um desses pilares. Acredito que, no futuro o ambiente de nuvem será atendido dentro das empresas por duas verticais de atuação:
- As demandas que necessitem ser atendidas em uma velocidade muito grande estarão sob responsabilidade de uma empresa especialista e
- Solicitações que possam ser contempladas em prazos regulares (menos urgentes) deverão ser encaminhadas para a equipe de TI das empresas.
Não consigo prever quando isso irá acontecer, mas tenho a certeza que quanto maior a maturidade, dos provedores e das empresas usuárias, mais próximo estaremos desse cenário que me parece o ideal para todos.
Conteúdo publicado na edição 6 da revista Atmosfera Dedalus